quarta-feira, 11 de junho de 2014

Crônicas de dia dos Namorados - Parte V

Washington, DC. 1998.

Agora era oficial: ela nunca conseguiria tirar férias do parceiro! Foi a conclusão de Scully ao perceber que em um simples fim de semana que tirara para descansar da sequência de acontecimentos que tornaram sua vida tão agitada desde que foi designada para os Arquivos X, não fora possível ficar longe do alcance de Mulder.  Nem longe o suficiente dos casos bizarros que costumavam investigar…

Tudo que ela queria era um final de semana normal, um bom banho de banheira, ler um livro sem interrupções, tomar um bom vinho… um fiasco! Como por magia (se é que isto existe) os Arquivos X agora estavam aonde ela estava, e mesmo no Maine, ela teve que salvar uma família de uma boneca enfeitiçada, claro que com este detalhe imprevisto ela foi “praticamente obrigada”  a ligar para Fox Mulder, que não foi muito útil se for julgar bem… às vezes Scully se pegava pensando o que ele costuma fazer na sua ausência. Por quê ele preferia ficar no porão do FBI nos finais de semana? Foi cômico perceber o quanto ele esteve entediado em Washington enquanto ela esteve fora no final de semana, bom, pelo menos era o que parecia quando ela olhou para o teto da sala deles na segunda-feira.

Enquanto esteve terminal, antes que o microchip estranho que Mulder encontrou fizesse efeito e a curasse da doença, ela pensou várias vezes, o que ele faria sem ela, afinal? E Como eram as coisas antes dela o conhecer? Como a tendência à organização lógica e procedimentos formais que ela absorveu de sua área de formação impactou a maneira como ele trabalhava? Será que na verdade, os Arquivos X não eram apenas uma busca incessante dele, mas de fato uma entidade maior que surgiu da interação de sua ciência com a fé que ele nutria no sobrenatural? E finalmente, ele sentiria sua falta quando partisse ou mergulharia nos casos cada vez mais obsessivamente e a memória dela se perderia no esquecimento?

Ela nunca saberia…. mas melhor assim! Melhor deixar os pensamentos tristes para trás. Ainda se sentia divertida ao pensar na cara assustada de Mulder quando ela disse que queria enviar um presente ao detetive que conheceu no Maine: Jack! Certamente o policial não despertou nenhum interesse nela, mas ela não resistiu à chance de instigar o parceiro. Na verdade ela queria saber mesmo onde era a loja de “bugigangas” exotéricas que ele frequentava, onde ele comprava seus souvenirs exclusivos.  Não era a Jack que ela presentearia, queria comprar para seu parceiro um pequeno presente de dia dos namorados, não só para devolver a atitude dele no ano anterior, mas por que queria celebrar a vida… estar a beira do fim podia ser revelador, e Scully decidiu que algumas coisas podiam ser mais leves, por exemplo a convivência dela e Mulder, uma vez que o trabalho dos dois já oferecia tensão suficiente para todos departamentos de sua vida. 

Scully surpreendeu-se diante do endereço anotado, era uma pequena galeria, procurou a loja, era um “paraíso nerd”, a cara de Mulder, deve ter conhecido este endereço através dos Pistoleiros Solitários. “Bom… vamos ver o que teremos pra hoje”, murmurando este pensamento, ela entrou na loja disposta a não sair de lá sem um presente que deixaria seu parceiro de queixo caído!

By Cleide.


***

Nova York. 1997.

Antes de Scully viajar para passar o Natal na casa do irmão, eles tinham trocado presentes. Era uma nova tradição entre eles: se presenteavam em datas especiais... pelo menos sempre que a vida atribulada deles lhes dessem essa chance.

Mulder havia ido a NY para uma conferência sobre fenômenos paranormais no fim de semana e para a surpresa de ninguém, Scully preferiu ficar em Washington. Ele, então, resolveu ir em busca de alguma coisa que fizesse sua parceira sorrir. O agente não tinha pressa nem nada em mente, confiava que quando visse a coisa, ele simplesmente saberia.

Ele escolheu andar por ruas de Nova York que não estavam tão apinhadas de pessoas ávidas para comprar algo para alguém especial. E era isso que Scully era para ele. Sendo bem sincero, ela era a pessoa mais importante em sua vida. A única em 5 bilhões que ele poderia confiar completamente. E era bom que o significado do Valentine's Day ia além de uma data para namorados, mas também comportava a celebração da amizade, pois seus sentimentos com relação a sua parceira não poderiam estar mais conflitantes.

Ele era um psicólogo formado, pelo amor de Deus, e com louvores! Ele sabia que situações de extremo estresse poderia levar pessoas envolvidas a forjar um elo entre si que se diluiria rapidamente à medida que o choque passasse. E a vida de Mulder e Scully era praticamente apenas isso desde que se conheceram.

O último ano então os havia levado ao topo do desespero. A descoberta da doença de sua parceira e depois a subsequente cura nada convencional os levou a um turbilhão de emoções e a uma completa reavaliação do que eles acreditavam ou não ser verdade. Ele pensou que ele a perderia para sempre e que tinha sido por sua culpa... de novo. Ela havia colocado no pescoço duas coisas que ela acreditava que a salvariam: uma cruz e um chip. Se isso não fosse o suficiente para balançar a sua existência, ela ainda havia descoberto que estavam usando seus óvulos para gerar crianças geneticamente modificadas. Enquanto isso, ele lidava com sua culpa, consequencia de ter sido usado como um tolo em alguma conspiração governamental e o fato de que as pessoas responsáveis por ela amavam usar sua irmã para manipulá-lo. Ele ainda não havia decidido se aceitaria aquela última Samantha era verdadeira ou não.

Quando finalmente eles conseguiram se ver a sós depois que o médico confirmou que o câncer de Scully estava em remissão, eles haviam passado cinco minutos inteiros abraçados e chorando nos ombros um do outro. Sem exageros.

Por outro lado, situações extremas também revelavam o que as pessoas tinham de melhor e de pior dentro de si. E depois de cinco anos, ele poderia dizer que viu um bocado de sua parceira... e que ele possuía uma admiração imensa por cada uma delas, incluindo as ruins. Ele podia viver sem ter que lidar com o seu ceticismo  exagerado e sua teimosia em não acreditar no que se passava embaixo do nariz dela, mas os últimos acontecimentos lhe mostraram que ele estava certo em levar à sério a opinião da parceira. Afinal, o que parece óbvio ao primeiro olhar, pode ser algo totalmente diferente do que se pensava depois de visto com mais atenção.

O que o fazia voltar a sua conclusão inicial de que ele não tinha ideia do que sentia por ela. Querer algo além de uma amizade poderia ser uma ilusão momentânea... e ele poderia estar redondamente enganado com seus sentimentos e então ele estragaria algo que lhe era muito precioso,  quase que essencial para ele... a presença de Scully em sua vida.

Além do mais, quem lhe garantia que ela sentia o mesmo?

No meio de uma análise sobre o comportamento de sua parceira nos últimos tempos, Mulder avistou algo no canto da loja em que entrara com bastante potencial para se tornar um presente para Dana Scully e, como não tinha ideia de como havia chegado até ali, ele decidiu prestar mais atenção ao que estava fazendo e deixar aqueles pensamentos para um outro dia.

By Josi.

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