sábado, 14 de junho de 2014

Crônicas de dia dos namorados - Parte VIII

Washington, DC. 2001.

Scully estava no escritório dos Arquivos X desde bem cedo. Tinha trabalho para fazer e a distração era mais do que bem vinda. Honestamente, ela não sabia mais o que fazer. Eles já tinham tentado de um tudo, já tinham investigado cada detalhe, cada pista, tinham revisto cada pormenor... mas ela não desistiria. Não podia desistir. Ela tinha que trazer Mulder de volta. E pra tornar tudo ainda mais complicado, ainda tinha que equilibrar sua busca por ele com seus cuidados com sua gravidez.

Ela evitava pensar muito em tudo o que estava acontecendo, basicamente porque as possibilidades lhe inspiravam um terror imenso. Mulder havia passado mais de 25 anos na busca pela sua irmã... ela não sabia como ele suportou aquilo. Ela estava sem ele há meses apenas e já quase não aguentava mais aquele sentimento de impotência. Quanto à sua gravidez... se ela soubesse como aquilo tinha sido possível, talvez ela pudesse passar a encará-la como uma dádiva. Ela havia feito todos os exames necessários há alguns anos atrás e estava mais do que comprovado que ela era estéril. A agente havia até mesmo tentado junto com Mulder uma fertilização com os óvulos que ele havia recuperado na época em que ela estava doente, mas não tinha conseguido nada. E agora... essa gravidez aparecia do nada? Até agora tudo parecia ok com ela e com o feto, então... o jeito era esperar.

Pensar na gravidez a fez lembrar que tinha que comer. Saiu em busca de Doggett. Eles tinham caído numa rotina de almoçarem juntos, com sua desconfiança com ele tendo se dissipado a muito tempo. Ela precisava mesmo de alguém para ajudá-la a suportar tudo aquilo e o rapaz estava se revelando um agente muito competente e um bom amigo.

Quando estava no hall, se deparou com a mesa de um recepcionista com uma decoração discreta de Dia dos Namorados. Uma grande tristeza tomou conta de seu ser e ela teve que piscar algumas vezes para evitar que lágrimas caíssem de seu rosto. A última coisa que ela queria era colocar ainda mais lenha no falatório do bureau sobre ela e Mulder. Se a fofoca se tornasse muito forte, eles poderiam tirá-la da frente das investigações. Isso não podia acontecer. Respirou fundo, se dominando.

Nos últimos anos, eles tinham dado um jeito de ao menos trocar presentes nessa data. E agora ela sequer sabia onde e como ele estava. Fez uma nota mental para comprar um cartão bem humorado para quando ele voltasse. Porque ela o encontraria e o traria de volta para casa. Era uma promessa. E quando ele estivesse com ela novamente, eles comemorariam, não importa o quão atrasados estivessem.

By Josi.


***

Ele não conseguia acreditar… até hoje, passados uns meses, quando contava o que lhe aconteceu, parecia estar falando da história de outra pessoa. Foi abduzido, devolvido supostamente morto, e ficara enterrado por meses… era um roteiro do pior dos pesadelos, mas ele não se lembrava de absolutamente nada. Quantas vezes se irritou com Scully quando ela era enfática em dizer que não lembrava nada de sua abdução, que não tinha como provar nada, por que sequer conseguia processar em sua mente o que tinha acontecido, como poderia afirmar que era verdade? Agora ele entendia, do fundo da alma, como era ter parte da própria vida roubada de si mesmo, a sensação era horrível…

Depois de terem passado meses tão agradáveis juntos, era insuportável pensar no desfecho final… é como se para cada pequena alegria, ele e Scully tivessem que pagar dobrado na moeda do sofrimento. Mas novamente, lá estava ele, vivo como por um milagre, teria ele ainda alguma missão no mundo? As coisas pareciam tão mudadas agora que voltou… outras pessoas fazendo seu trabalho com a parceira. E ela mesmo, parecia ter outro foco e outras preocupações, estava, para sua supresa, grávida! Vários paradigmas foram quebrados enquanto ele esteve “morto”!

Se pegava sempre pensando que, se ele não lembrava de nada, Scully teve que derramar todas as lágrimas amargas deste tributo, sozinha, sem saber o que estava acontecendo com ele, e quando a espera e busca acabou, ela ainda teve que “enterrá-lo”. Ele mesmo, não sabia se teria conseguido manter a sanidade mental, se fosse o oposto. E ainda no estado em que se encontrava, uma gravidez no mínimo milagrosa, sonhada, bem vinda, mas que levantava questionamentos perigosos, incômodos…

Quantos momentos únicos ele perdeu enquanto estava fora? Mas se agora estava vivo, por que não retomar seu lugar na vida dela e no mundo, e compensar tanto tempo que lhes foi roubado?

Com este pensamento, se levantou de seu apartamento vazio e sem vida, e seguiu em direção à casa dela, pretendia comemorar o dia dos namorados, natal, aniversário… tudo que eles mereciam, não deixaria que lhes tomassem nenhum minuto.

By Cleide.

Obs: Ignoramos totalmente a timeline da série para que coubesse um dia dos namorados nesse ano. ;-)

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