quinta-feira, 12 de junho de 2014

Crônicas de dia dos Namorados - Parte VI

Washington, DC. 1999.

Já haviam se passado meses, quase sete, e a imagem do rosto de sua parceira a menos de milímetros de seu rosto, com olhos tão azuis, ainda marejados pela tristeza da despedida, continuava vívida em sua mente… ele e sua memória fotográfica! Como seriam as coisas se ela não tivesse sido picada por aquela abelha contaminada? O que seria do relacionamento deles se eles tivessem finalmente se beijado no corredor de seu prédio? Ele abrira seu coração, demonstrando a ela sua gratidão infinita e o quanto ela mudara sua vida… teria coragem de dizer também que o que sentia era mais que amizade?

Há tempos ele procurava não pensar nisto e concentrar suas energias e pensamentos em seu trabalho, em salvar Scully quando ela estava doente, em vingar os mortos, em encontrar Samantha, mas a cada dia perto dela, esta verdade se assomava em algum lugar de seu subconsciente, às vezes ele tinha vontade mesmo de falar, como depois de seu naufrágio no Triângulo das Bermudas, em que ele por impulso beijara uma sósia de Scully do passado. Tendo sido resgatando e acordando com a parceira ao lado de sua cama, não resistiu em soltar “Eu te amo” - ela não acreditou, ele sabia que ela não acreditaria em uma declaração assim fora de contexto de um parceiro um pouco inconsciente - foi por isto que ele teve coragem de falar. 

Algumas pessoas até percebiam, ao observá-los, que havia algo mais que amizade em sua maneira de olhar a parceira, mas ele sabia que era preciso negar… “Eu não oooolhhhooo para Scully” - ele as vezes se pegava dizendo, palavras vazias, que se não o convenciam, tampouco convenciam seus interlocutores.

Mas, pelo menos para ele mesmo, era preciso confessar que a vontade de beijá-la naquele momento crucial foi muito mais que um impulso passageiro causado por tristeza ou desespero. Ele, de fato, sentia mais do que amizade por ela, mais do que parceria ou coleguismo, não era apenas uma confusão com sentimentos de fidelidade nascidos dos perigos que tinham que enfrentar juntos, não era medo de perdê-la apenas, era maior, muito maior que tudo, e por ser tão diferente, por ela ser tão diferente das mulheres com  quem ele se relacionou, ele demorou a identificar. 

Nem mesmo a presença de um grande amor do passado abalara este sentimento que, assumido, tomou conta dele. Rever Diana, na verdade, dava a ele aquela liberdade de não se sentir mais apaixonado pelo passado e mais, a alegria e consciência de ser possível amar de novo e mais, de maneira mais profunda, mas madura. De uma maneira que não se imagina ser possível novamente, quando se está de coração partido. 

O que matava era o fato de Scully não ser uma pessoa fácil de ler… a implicância que ela demonstrava por Fowley parecia as vezes ser ciúmes, mas podia ser apenas uma tentativa de demarcar seu território profissional. Ela sempre foi tão boa em esconder seus sentimentos… não deixava muita coisa transparecer além disto.. se ele ao menos soubesse! Não queria arriscar ser rejeitado, não queria correr o mínimo risco de provocar o afastamento dela… não imaginava como seria acordar e ir trabalhar sem aquela intimidade que eles haviam criado. O que faria? Aproveitar a proximidade com o dia dos namorados e dizer de vez a verdade? Seria uma boa idéia… não! Definitivamente, ele ainda não se sentia preparado para isto… como voltaria a olhar aqueles olhos e aquele rosto querido, se não pudesse beijá-la sempre que quisesse?

By Cleide.


***

Scully não conseguia dormir. Estava deitada a horas e nada do sono vir, mas ela não estava exatamente preocupada com isso. Depois de passar pela faculdade de medicina e pela posterior residência, você se acostuma a viver com poucas horas de sono. E isso sem contar que depois dos Arquivos X, ela dormia cada vez menos e já até se habituou a roubar alguns momentos de descanso aqui e ali. Coisa que ela raramente via Mulder fazer... como ele conseguia aquilo era um mistério. Ele devia recarregar suas energias com doses diárias de alien-info. Ou talvez ele o fizesse ao infernizar sua vida, ela pensou ao mudar de posição na cama e encarar o teto que a fraca luz vinda da janela tornava visível.

Ok, talvez ela estivesse sendo um pouco dura demais. Ele não infernizava a sua vida, eles já tinham até trocado os presentes de dia dos namorados deste ano, o que foi... estranho e embaraçoso, na verdade. Depois de tudo o que vem sido dito entre eles, todas as discussões por demais pessoais, as cobraças mútuas etc etc, o significado da data tornou-se bem diferente do que tinha sido nos últimos anos. Na primeira vez, a dois anos atrás, somente ele havia lhe dado algo e ela entendia que o seu objetivo era melhorar o seu humor com toda a história de sua doença e tudo o mais. Ano passado, eles tinham tido alguns problemas, mas ela estava tão animada por estar viva que somente a lembrança de Emily lhe deixava triste de verdade. Este ano era tudo mais... complicado.

Como, como ele podia lhe cobrar clareza quando ele próprio era tão enigmático? Ela não estava pronta para falar e admitir certas coisas em voz alta... Pelo menos não quando ele mesmo estava se mostrando tão... distante às vezes. Sempre que ela tentava se aproximar de novo, ele fugia! O que ela podia fazer?

Ela confessava, ao menos para si mesma, que mesmo antes de tudo o que aconteceu no corredor do prédio onde ele morava, ela já nutria outros sentimentos por Mulder além de amizade. Quer dizer, a amizade ainda estava lá, claro. Ele era seu melhor amigo. Mas já a algum tempo que não apenas isso. Ela não sabia dizer exatamente quando tudo mudou. Simplesmente aconteceu. Era como ela tinha falado para Scheilla: um dia você via a pessoa apenas como amiga e no outro é como se tudo tomasse novas cores, novos ares...

Sim, eu, Dana Scully, estou apaixonada por Fox Mulder. O simples pensamento fez com que um arrepio percorresse seu corpo. "Ai meu Deus".

Repassou, pela enésima vez, tudo o que aconteceu naquele dia. Ela ficando absurdamente frustrada por não conseguir ajudá-lo, por pensar que estava apenas atrapalhando no trabalho... Nossa! Naquele dia, tudo no que ela pensava era que o seu trabalho atual no FBI ia se tornar ainda mais idiota do que já estava desde que os AX haviam sido tirados deles e que Mulder não precisava dela por perto atrapalhando ainda mais o pouco que ele conseguia avançar. Então, quando ela foi se despedir dele, ele simplesmente virou o seu mundo de pernas para o ar. Ela já sabia que era importante para ele. Não era nenhuma idiota. Mas... não naquele nível. E para completar, para a sua total e completa surpresa, ele iria beijá-la!

Ela gemeu e escorregou para debaixo das cobertas dramaticamente ao lembrar o quão perto ela esteve de beijá-lo. Ela bem que tentou recriar o momento. Ver se ele pegava a deixa... mas ele simplesmente deixou passar todas elas. Ela tinha que ser sutil mesmo, pois era mais fácil ele descer do que ela escalar até ele, ok?

Ela bufou se ajeitando de volta no travesseiro, toda corada e com os cabelos para todos os lados. Que ótimo. Agora voltei a ser uma adolescente. Ela pensou franzindo o cenho.

E ainda havia a Fowley! Era tão óbvio que ela não era nem queria ser amiga dele... em nenhum sentido da palavra. Ela sequer era uma pessoa decente até onde ela podia ver. Mas ele insistia em defendê-la e ainda comparar a outra agente com ela em alguns momentos. Que diabos, Mulder!

Tudo isso e mais algumas coisinhas a impediam de ousar demais. E se ela estivesse redondamente enganada? E se ele tivesse mudado de ideia? E se ele não achasse que valia a pena ir em frente com aquilo e colocar em risco o trabalho deles? E se ele estava tão incomodado por que ele mesmo não tentava algo? Dizer "eu te amo" enquanto estava drogado e falando coisas sem nexo não contava.

Talvez ele esteja com medo também.

Ela suspirou e olhou para o relógio. Três e quarenta e cinco. Levantou para fazer um chá e resolveu ler aquele artigo sobre o avanço da clonagem e seus benefícios para a humanidade. Quem sabe assim ela relaxaria o suficiente para ter algumas horas de sono?

By Josi.


Um comentário:

Anônimo disse...

Pra mim Scully percebeu que estava interessado em Mulder desde do início, enquanto ele temia perder a amizade dela fazendo alguma besteira e fingia não perceber.rsrsrs

Yanne